FORMIGUEIRO HUMANO
Vem,
é muito cedo
para eu partir sem mãos:
me chama aos gritos,
me chama aflita,
me chama vã
no quase adeus d’uma separação
entre a nuvem e o mar
choveu a granel
num corpo sem casa, noutro sem papel....
Vem,
é muito tarde
para eu viver nas mãos
d’um chamar feito de indagações,
a torturar
o chorar mais seco de qualquer inundação,
que está a rir
a meio palmo do oceano que mora ante o meu nariz,
entre a areia e o fim
choveu a varejo
num corpo que parte, noutro que fica em mim...
[e mesmo assim]
Vem,
mesmo sem saber se poderá, tarde ou cedo,
ser
o tempo exato de pedir tua mão,
pois há mil formigas a um palmo do chão,
[em perdão]
por terem devorado o glacê do bolo da nossa união.