Madrugada dos Mortos
Retratos do dia-a-dia importunam
Noite após noite, sempre uivantes
Iluminam o escuro calmante
E minha letargia, meu transe, furtam
Infestação capilar de caracóis
Numa cabeça que ferve por mil sóis
Tiram meu corpo dos lençóis, e vivo
O que devia ter dito, feito e vivido
A cama, o travisseiro, tudo perfeito
Esperando o ritual da falsa morte
Mas minha mente, profana e forte
Inverte a horizontal, do pior jeito
De olhos cansados
Nem chorar mais posso
Só escuto o galo cantar o dia
Novo, velho, sem energia
Por sempre estar vivo
Na madrugada dos mortos.