Triste sina

Uma briga entre cães e gatos

Interrompe a silenciosa madrugada

Sinto-me invadida

Dilacerada

Meu corpo nu

Desfalece

É como se as unhas

Daqueles felinos

Arrancassem a alva textura da cútis

que jaz inerte sob seus olhos

Caio em silêncio

E o silêncio da noite não é menor que o meu

Em fetal posição

Uma linda, enluarada poça de vida

Derramada sobre o mundo

Escorre

E teus olhos apenas observam passivamente o esvaziar de minhas energias

Minha luz vai-se apagando aos poucos

Para trazer trevas a meu decadente ser

Só um feixe de lua me ilumina

Transpiro

Inspiro renascer

Mas, pobre de mim...

Abraças o gato da briga antecessora ao caos da madrugada

Não mereço o aconchego e abrigo de teus braços?

Estás longe...

E longe de ti termino

Sem sangue...

Sem vida...

Sem cerne de luz e de cor

Sem alegria

Minhas unhas viram pedra

Minhas veias viram lixa

Meus cabelos, fios inertes

Pobre de mim...

Que teria sido,

Não fosse a lua

Ceder lugar ao sol

E este encher a terra, ao leste

de calor e vida?

Fostes embora, dando costas ao destino

Acaso fui eu ou foste tu

Feitor ou escravo do abandono?

A triste sina da solidão só se completa pelo total e irrestrito abandono,

mas eu tive a companhia das estrelas...

Caroline Schneider
Enviado por Caroline Schneider em 26/03/2007
Código do texto: T426001