Ilusões amém
A vida é uma causa perdida.
Amém.
Cá estou de novo galopando no vago pessimismo
do ser do ente e do nada.
Não há futuro, apenas ilusão de um reconhecimento adiado.
Sou escravo de ilusões partidas
de horas a fitar o sol
e queimar-me na gravidade perene.
O universo rir enquanto desato o primeiro nó
amarro-me nas amarras cotidianas
a única saída é dormir novamente.
A vida em seu exterior é fétida
prefiro o lado de dentro
menos povoado
e com ar mais arejado.
Estou preso na jaula
preso as minhas lacunas diurnas
descontente com o rumo do vento.
Toda a incerteza vem das vitrines,
com seus olhos grandes.
Pessoas trafegam na rua
se olham e não se veem
vivem nessa realidade distorcida
cruel, nua, crua e nadando na corrente.
Sou peixe molhado no asfalto
quanto tempo ainda me resta?
Hoje sou apenas eu
e tudo ficou pra trás
minha agonia é meu retrato
meus demônios me fazem companhia
como posso ser, se não humano?
Essa carne que sangra
todas as noites brigando com o tempo
é um monumento em contrações musculares
perdido em ilusões, eu vou rasgando a madrugada.