Simetria

Talvez sejamos simétricos.

Afinados.

Talvez acordemos em tom mais grave,

E depois nos agudemos.

Com o passar das horas.

A simetria diante do espelho

Pode ser que nos mostre beleza.

Mas, é preciso reparar bem...

Se a simetria vai além.

Se segue o contorno da alma.

Dizem que somos multicoloridos.

Muito se fala da quarta dimensão.

Todavia, não são todos

Que se propõem a enxerga-la.

Não são muitos os que

Visualizam as cores todas

Que nos rodeiam.

Pensamento a pensamento.

Buscamos concatenar as ideias,

Criar juízo...

É tão difícil essa coisa toda!

Por vezes, nos deixam malucos.

Com vontade de rebobinar a explicação da aula,

Só para ver se aprendemos algo que preste!

Buscamos o conhecimento cognitivo

De forma voraz.

E, sinceramente, deixamos de lado

Toda e qualquer forma de autoconhecimento.

Ficamos com medo do espelho.

Com medo das próprias rugas e cicatrizes.

Das queloides e hematomas.

Que, no fundo, nos remetem ao fracasso.

Fracassamos em algum momento da vida.

Afinal, não há simetria

Que permaneça tão simétrica todo o tempo.

Não há acorde melódico

Que não desafine meio tom

Numa terça-feira longa e entediante.

Somos na verdade assimétricos, desacordes.

Somos balança debaixo do ventilador.

Não há como permanecer intacto.

Somos grama pequenina, vez em quando.

Noutras, raio imponente e austero.

Cheios dos porquês e das razões.

Misturamos dentro d’alma

De tudo, um pouquinho.

Para que não falte nada.

Para que não sobre, não transborde.

Afinal, a medida certa

Está dentro de cada um.

Nem mais, nem menos.

O exato.

O concreto, o abstrato.

O futuro incerto,

Junto ao passado recordado.

Como num filme.

Vamos vivendo e buscando.

Sentindo e nos medindo.

Seja em copinho de xarope.

Seja em tacho de cobre.

Aos poucos, vamos nos dosando à vida.

Para que nos distribuamos

Em tons nada estridentes.

Ou mesmo em figuras nada disformes.

Um dia perderemos a forma.

Não já.

Então, talvez a ressonância ouvida

Dependa somente e tão somente

Do acorde emitido.

Para que sejamos quadro admirado

Devemos nos autorretratar como tal.

Em pinceladas pequeninas.

Que completem a tela.

Ao som do que nos faz bem à alma...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 18/05/2013
Código do texto: T4296925
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