Cartográfico

Contrariamente à estética comum dos lares

o que tenho sobre a cabeceira da minha cama,

qual quadro muito caro,

é um mapa de Minas.

De tão acostumado à retina,

já sei recitá-lo de cor:

a métrica de suas montanhas,

a rima de seus rios,

o estilo de suas estradas.

Imagino que sou onividente:

sei dos animais,

como a vaca,

e dos bichos,

como o boitatá;

sei das mulheres e dos homens.

Se eu fosse nostálgico,

veria o boticário,

o maquinista,

o jagunço,

o inconfidente

e o tropeiro.

Até o pobre carteiro

entregando tantos suspiros postais.

Eh, mundo cheio de ipês e porteiras!

Só não vejo onde está o meu amor

com aquele seu sabor

de favo de uva, de cacho de mel.