Vícios são modos de flanar
Dois olhares fitam as cartas postas na mesa
os rostos quase sem movimento
acompanham toda a transação daquele ambiente
transparecer a dúvida é uma questão de sobrevivência
na certeza da vitória
bebe-se alguns goles de rum da garrafa comprada para ocasião
a noite é lenta e cheia de corações gelados
as cores recriam o ambiente em tons sinceros
vícios humanos são modos de flanar
sair flanando como se não houvesse tanta importância
é uma questão filosófica
onde Cézanne e seus Players
não tem hora pra chegar em casa e encontrar os mesmos sapatos.
De volta a mesa ver-se a seriedade
de como as coisas são tratadas.
A complacência das cartas não revela coisa alguma
o objetivo é passar horas em distração
perder ou ganhar não mede o tamanho da razão
a no vício algo além da simples diversão
ou emoção de dinheiro a mais dentro da carteira.
O silêncio impera entre dois jogadores experientes,
eles quase não se olham
estão perdidos admirando seus naipes
os gestos são quase rítmicos
revelando uma certeza de incandescência
o tempo continua no ronco do motores
o vai e vem do vento e das meninas exalando perfume
não é tão convincente quanto nove cartas nas mãos
assim sem muito pensar
eles vão bravamente com seus chapéus em tons opacos
gastando suas rugas, que o tempo conta com tanta frieza.