Posso morrer amanhã

Posso morrer amanhã.

Não sei.

Não sei quanto tempo me resta

Para organizar uma festa

Ou mesmo uma confraternização.

Posso fechar meus olhos, devagar.

E só abri-los lá, bem longe.

Posso ter medo.

Querer ficar.

Mas, já não há por quê.

Já não há motivo ou razão

Que me segure.

Que necessite de mim.

Posso morrer amanhã.

Não sei.

Mas a certeza do amor vivido

Isso, sim, sei que carrego!

Além túmulo.

Além plano físico.

Além olhos e olhares.

Carrego dentro d’alma.

Em meio às luzes, energias.

É ele quem me sustenta.

Seja aqui, seja lá.

E esse lá é sei lá...

Algo sem definição concreta.

Sem camiseta, coberta.

Sem matéria, sem lenço.

Então, apenas me benzo

Para ver se vou para o céu.

Porque para o “beleléu” já fui várias vezes.

Já cantei desafinado

Para arrumar o trocado do pão.

Já dancei provocante

Para alegrar a amante

Em noites de decepção amorosa.

Já fiz de tudo um pouco.

E hoje vou vivendo.

Repensando o amor vivido.

Toda vez que o cupido

Ousou passar por aqui.

Cupido besta, sem noção!

Fazendo-me levar cesta

Toda enfeitada para a moça bonita

Que de bonita só tinha os olhos.

O resto era sem sal, sem açúcar!

Não sei como pude me encantar tanto!

Foram encantos vários

E noites mal dormidas a perder de vista.

Ah! Se tivesse me embriagado menos...

Talvez assim tivesse menos arrependimentos.

Mas, o cupido que se dane!

Foi-se o tempo dele bater asas

Por essas bandas.

Ele que vá voar no vizinho!

Velho solitário, aquele!

Quem sabe ainda arrume alguém

Para chamar de “meu bem...”

E parar de resmungar.

Onde já se viu tanto resmungo junto?

Porém, o cupido que vá plantar batatas!

Os meus dentes já se foram.

Hoje são de resina os que ostento

Ser o “sorriso bonito” das fotos 3X4.

Meus cabelos criaram asas.

Desconfio que o cupido andou levando,

Porque em toda foto sua que vejo

Seus cabelos cacheiam cada vez mais.

Minhas manchas senis

Quase me fazem um dálmata.

Para latir, confesso, falta pouco!

O que resta de bom na verdade

É o doce lembrar dessa vida.

Que fez-me feliz por um tempo.

Hoje, já nem sei se sou.

Ando num jeito “sei lá...”.

Que nem explicar eu sei.

Acho que ando mesmo é esperando

Aquela bruxa malvada

Que a gente foge toda a vida.

Mas, de que adianta fugir,

Se no final das contas

Ela vem vestida de noiva,

Com cara de cachorro de rua

Querendo um dono?

Por mais que haja medo,

A gente acaba casando.

Posso morrer amanhã, não sei.

Contudo, o que garante

Que lá do outro lado

A “noiva” que vem nos buscar

Não se transforme na mulher dos sonhos?

Seria bom, não acha?

Afinal, o final sempre existe.

Com medo ou não.

Com festa ou não.

No final, a gente casa.

A gente sempre casa...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 25/05/2013
Código do texto: T4307955
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