Universo em desencontro

Os aparelhos entraram em colapso.

Entre amar, deixar, estar e permanecer, eu escolho continuar sendo.

Fui e sou agora aquilo sempre quis ser.

Somos eu e eu mesmo. Somos eu e meu medo.

Movem-se as articulações, entreabrem-se as portas.

Aqui é escuro, é tudo cheio da minha respiração, só sobraram minhas últimas vidas.

Só sobrou o oco da minha ausência, meu espasmo de redenção,

minha alma é isso que transborda pelo meus pelos.

Somos eu e dor. Somos eu e nunca.

Eu só sou suor e lágrimas porque eu quis.

Fiz de mim a única salva de palmas que meus músculos tiveram vontade.

Sem música, sem gente nas ruas, sem presença, sem futuro.

O que eu vivi desde que cheguei é a única lembrança que me remete.

Somos eu e meu desencontro. Somos eu e meu próprio fardo.

O fardo pode ser meu, mas o caminho é nosso.

Nossos traços são sinuosos, mas ninguém enxerga as curvas daqui.

Depois que caem os panos, só não sobrará espaço pra contar destinos.

Não posso me dar ao luxo de deixar passar o tempo.

Somos eu e meu tempo. Somos eu e minha espera.

Meu corpo é meu invólucro.

Vão-se os dedos, vão-se os anéis. Quem fica aqui sou eu.

Eu não, metade mim. Ficam aqui meu tosco, meu bruto.

Morre meu castigo e nasce minha história.

Somos eu e minha amálgama. Somos eu e meus filhos livres.

Se fui atacado, já não me importa mais.

Alardearam, esconderam, queimaram os papéis e desmontaram os dias.

Tudo isso é o vão da humanidade.

Debaixo dos alicerces tudo permanecerá intacto.

Os fins se deram, os meios serão justificados e nada que foi assassinado migrará.

Na terra que não viu a lei, há de nascer algo maior que tudo.

Há de ser aqui a terra do pensamento singular.

Mesmo que não seja unido, mesmo que não seja um por todos,

se há apenas um pra contar o enredo, ele será contado.

Somos eu e meu povo. Somos eu e minha carne.

Pelo exercício do meu amor, matei o que me é transitório

e lancei meu parecer em um pedaço de eternidade.

Fomos eu e meu nome. Seremos nós e nossa glória.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 27/05/2013
Reeditado em 27/05/2013
Código do texto: T4312345
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