Insônia

Das minhas noites de insônia

Posso dizer que são muitas.

E são recheadas de letras, melodias e friagens.

São solitárias como a rua, escura.

E também cheias de vida, como berçário infantil.

Dentro de minha pobre alma

Circulam histórias, personagens...

Com seus muitos espaços, cenas, vestimentas.

Têm vida própria.

Não precisam de minha ajuda.

Sou mero expectador.

Observando tudo,

E guardando quase nada.

Guardo dentro d’alma

Somente o que me acrescenta.

Seja do que vivo dia a dia.

Seja do que vivo, enquanto o corpo dorme.

E posso dizer que enquanto ele adormece,

É quando mais vivo emoções.

Emociono-me, arrepio-me.

Sorrio levemente

E ao acordar, por vezes,

Corro fechar os olhos, de novo.

Só para sentir um pouquinho mais

As borboletinhas na boca do estômago.

Senti-las me alimenta o coração.

E me põe mais provocante, mais audaciosa.

Sou maluca, certas vezes.

Uso a madrugada solitária

Para demonstrar em papel e caneta

O que vai dentro d’alma.

O que voa dentro da memória.

O que circula em meio às células.

Sou maluca, pode ser.

Talvez, por querer ver o mundo

Com olhos menos acinzentados.

Por querer mostrar a você, que me lê,

Que viver e ser feliz podem

E devem fazer parte do mesmo vocabulário.

Podem ser sinônimos,

E não antônimos,

Como se vê hoje em dia.

O mundo anda muito atonal.

Sem vontade de sorrir, para o cão lhe chacoalha o rabo.

Sem vontade de agradecer o gesto bom

Que o senhor rabugento da rua de baixo

Dispõe-se a ofertar-lhe, num momento súbito de bondade humana.

Coisa feia de ser vista!

De ser sentida, de querer por perto!

As pessoas andam se abdicando em prol de outras

E nem mesmo sabem como olhar no espelho

E verem-se, refletidas.

Negam-se a si próprias

E depois não sabem como serem elas mesmas, de novo.

Choram lágrimas de solidão

E não aproveitam essa falta de companhia

Para inspirarem-se, em algo que lhes seja útil.

Amo escrever, em noites frias e chuvosas.

Isso me conecta mais comigo mesma.

E me eleva, em pequeninos raios de luz,

Quase imperceptíveis.

Sou das luzes pequeninas, sem muita claridade.

O necessário para poder enxergar os pés

E não trombar com os móveis,

Caso acabe a luz, no meio da noite.

Sou das cobertas macias.

Dos afagos mais sinceros.

Dos sorrisos mais abertos...

E talvez seja por isso tudo

Que ainda acredite no bem.

No poder da mente em se fazer ouvida.

Em se fazer sentida, mesmo à distância.

Podemos mover o mundo,

Somente querendo com o pensar.

Somos poderosos

E não deveríamos temer o próprio espelho!

Jamais!

Deveríamos vestir a melhor roupa,

Passar o perfume mais doce,

O batom mais bonito,

E sair por aí...

Como fazem as ciganas que teimam em ler nossas mãos.

O que nos diferenciaria delas, talvez,

Seria a praga não rogada,

Caso não houvesse tostões a abrilhantar os dedos.

A noite tem sua beleza ímpar.

Deveríamos ouvi-las com canais auditivos mais límpidos.

Com fones de ouvido, bem baixinho.

E fechar os olhos,

Só para senti-la nos abraçando, bem devagarzinho.

Amo a madrugada.

É nela em que me revelo.

É nela em que busco meus melhores pensamentos,

Minhas melhores inspirações.

Seja em noite de frio, debaixo da coberta.

Seja em noites quentes, com os pés para cima...

E aquela maluques toda

Que instiga, encanta e provoca...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 03/06/2013
Código do texto: T4322599
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