Companheira da Madrugada

Ando buscando respostas

Para as minhas noites de insônia.

Mas, elas caminham cada vez mais ao meu lado.

O frio da madrugada tem vezes, chega a doer.

E a saudade de mim mesma, mais ainda.

Procuro me encontrar em meio aos livros, aos papéis.

E a todas as infinitas canetas que amo colecionar.

Isso quando elas conseguem ser colecionáveis.

Gasto-as freneticamente, todo o dia.

O dia todo.

Amo fazer isso.

Amo me perder nos sonhos.

Eles alimentam minh’alma.

Fazem com que eu sorria, mesmo com os pés gélidos.

Faz com que eu não enlouqueça,

Por não me achar no meio do mundo.

Os sonhos caminham sozinhos,

Sem nem sequer precisarem de cão guia.

Faz-nos viajar com mochilas nas costas,

E nem do lugar tiramos os pés.

Hoje, os meus pés pedem mais que meias.

Pedem todos os carinhos, toda a quietude.

Pedem os melhores caminhos,

O caminho dos sonhos.

Mas, tem hora em que sonhar não é possível, de olhos fechados.

A insônia, velha companheira,

Teima em estar aqui, infernizando.

Caminha comigo, desde que me entendo por gente.

E hora me chama para um chocolate quente,

Noutras me observa, como analista.

Essa “psicóloga da noite”

Anda tentando me decifrar, a contragosto.

E o pior é tem conseguido bons diagnósticos.

Consegue extrair de mim todos os pecados,

Todos os desejos mais perversos.

Todos os quereres, e não quereres também.

Extrai de mim as melhores palavras.

Aquelas que chegam a machucar.

O silêncio da noite perturba,

Faz o ser humano viajar.

Mas, tem vezes que Vercillo tem razão...

Quando diz que sonhamos paisagens, compramos passagens...

E nunca voamos para lá!

Suas melodias são verdadeiras demais.

Acompanham-me sempre.

Acompanha-nos sempre, eu e a minha fiel companheira.

Uma companheira que perturba e incomoda.

Que faz com que eu passe dias em claro,

Mesmo tendo que passar meus dias no agito total.

E quando digo agito total, é total mesmo!

A cabeça vai a mil, o tempo todo.

E a alma, então...

Ah! Melhor nem comentar!...

Quisera eu perder meu sono

E não me perder em meio aos sonhos.

Impossível isso.

Sou feita de sonhos.

De todos os sonhos do mundo.

De todo o mundo dos sonhos.

Mesmo que eles vivam e revivam em minhas fibras d’alma.

Que eles façam morada naqueles que me acompanham,

Dia a dia, no frenesi cotidiano.

À distância, nas palavras que me descrevem.

Sou das borboletinhas voando,

Das bolhinhas brilhantes

No copo de Coca-Cola.

Sou das fadas, dos choros contidos,

Afogados no meio da noite

Ou debaixo do chuveiro.

Sou um céu todo estrelado.

Mas com uma pitadinha de inferno junto.

Sou poema todo rascunhado,

Feito no caderno infantil.

Sou das magias, todas.

Das loucuras, poucas.

Do amor, sempre!

Sou da madrugada longa.

Com ou sem o copo de Coca-Cola,

Ou o chocolate a adoçar os lábios.

Sou da insônia louca, toda.

Perfeita companheira.

Companheira inconveniente, também.

Companheira de muitos anos, de muitas escritas...

De muitos devaneios.

Sou da insônia.

E acho que não seria melhor sem ela.

Não sobreviveria a tantos turbilhões

Se não a tivesse aqui, para me ajudar...

Sinceramente, não mesmo!

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 09/06/2013
Código do texto: T4332352
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