ATÉ A PRIMAVERA DOS POLVOS

...

rupturas

a vida é feita

sêmen de sete vidas

a vida é bonitinha

tchau

uma estrada cheia de buracos

a sorte

à sorte dos ventos

sonho sangrado

sol a coagular

tentáculos são coisas feias

não tanto quanto algemas

pois são viscosos

são mucosos, deixam ser

deixe ser

esteja bem

esteja em paz

sobre as escorregadias sandálias da guerra

e os seres se estudam

a vida é estudo

observação surda

e os aprendizes querem o risco

e o fio do leite materno

querem o caixote na arrebentação e areia na boca

e os pezinhos cansados na água fresca

com o ar marinho a soprar com piedade

ninando rostos alegremente cansados

vida é cansaço

e busca louca

vida é responsa, mermão!

vida é indigesto

é sinistro

sem muito sentido ou luz controlada

o capim verdinho à beira

a besteira de tudo saber

tudo é sexo e deus e morte iminente

tudo é muleta e alegoria

esperando a perene alegria que não há

pois a fotografia de um instante é mais

ela pode mais que um futuro e um passado

embora um presente não exista

já que vida é fotografia em movimento

uma ilusão veloz

de vinte e quatro quadros por segundo

enganando a retina

a porta sempre estará entreaberta:

às portas de uma alegria.

(L.F., MENDES/RJ, 04/07/2013)