SEM NOME

O personagem sem nome assumiu a sua posição,

Cantou uma canção e sapateou pelo chão duro.

Sentiu um prazer quase impuro, que só sente quem faz o que ama

E depois, dançou na lama, durante uma chuva de verão.

Sob olhares de acusação, desafiou deuses e crenças.

Ilustres presenças testemunharam o acontecido.

Quem teria ungido aquele personagem de luz,

Que com palavras seduz até mesmo o errante?

O personagem, irritante, encarava também os perversos.

Cutucava com versos o olhar dos hipócritas com poder,

Que insistiam em ver na santidade daquele messias,

Tão anunciado nas profecias, algo muito ameaçador.

Destituído de falso pudor e espalhando a palavra certa

Aos homens de mente aberta que ouviam a mensagem,

Aquele personagem, tentando se fazer entender,

Sentia a dor de saber que talvez não estivessem preparados.

Com seguidores desarmados, sem noção do que estava por vir,

O personagem sem nome quis dividir aquele forte sentimento.

E nem por um momento pensou que poderia falhar

Na solitária missão de espalhar a semente pelo caminho.

Mas no fim, ficou sozinho e sofreu mais do que merecia.

E enquanto seu corpo padecia, sua alma celebrava a vida.

Mostrou, com a sua partida, que é de amor que o homem tem fome.

E assim, o personagem sem nome, assumiu seu lugar no roteiro do mundo.