Martelo e diapasão

Sonhos são sempre forjados a marteladas.

Sim, isso não é liberdade, nunca foi.

Não cabe liberdade nesse pedaço indiscreto de realidade.

Não cabe nem felicidade no pós-vida, mas ter fé no devir não é desacreditar na razão.

Não me conte sobre os heróis de guerra. Guerras que eu não declarei.

Meu interesse é pelas minhas próprias batalhas, aquelas que traço com meus próprios parênteses.

Meus filhos são meus únicos elos com a história e deles não abro mão, mas a patriarcalidade não é meu desejo mor.

Não procuro idolatria, ou caminho que amenize tantas injúrias desse conceito obsoleto de vida.

Narrar as dificuldades do caminho nunca caracterizou forma nenhuma de interferir no tempo dos semelhantes.

Eu, infelizmente, não deixei espaço para qualquer tipo de coerção velada, qualquer tipo de superlativo disfarçado de obediência cega e anulação intelectual.

Se eu carrego o peso da minha frieza, é isso que me vale de leito.

Atirei meu resto de lucidez em um canto escuro da humanidade.

O lado mais negro do outro lado do homem.

A sexualidade agrediu a consciência e matou toda e qualquer razoabilidade possível.

Não há possibilidade de subtrair minha falsa verdade.

Mesmo que haja o mar mais denso de conclusões obtusas, não há Deus que distribua a onipotência das suas palavras sobre as minhas têmporas.

As máscaras que couberam em todas as gerações que se passaram, me sobreviverão.

Sobrarão minhas palavras, mesmo após o fim do meu instinto absoluto, mesmo quando me ausentar do meu universo lógico.

Eu me contento com o som oco do diapasão, ecoando por entre as estátuas dos outros grandes.

Foram dias tortuosos, são horas angustiantes.

Altíssima rigidez das minhas análises, ferocidade aguda dos meus ataques.

Não me falta coragem para seguir qualquer rumo próximo.

O que me falta é a caridade de um "sempre" em que eu nunca soube encontrar.

Fernando Cesar
Enviado por Fernando Cesar em 10/07/2013
Código do texto: T4381227
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