Viver 
(Presente para minha amiga Rosana B. Souza, porque é assim que ela é...)

O homem torna-se escravo de sí mesmo
Seu senhor se torna, impiedosamente
Tem um só senso para a responsabilidade e a escravidão
Vive em pedaços, resignadamente

Hora de comer, hora de beber
Não vou a calçada, sem a louça lavada
Hora de andar, hora de parar, hora de pensar
E me orgulho dessa vida regrada

Hora de lavar roupa, hora de passar roupa
Hora de estar no transito, 7:10 em frente a loja, na marginal
Estando um pouco antes, estou atrasada
O dia será infernal

Meus filhos estão muito bem
Presentei-os com amor e boa educação
A meu trabalho, dedicada , responsável
Já não ponho em grilhões meu coração

Ser feliz com quem amo, como amo
Do trânsito, da roupa, da louça lavada
Da hora, me despi
Vou para a calçada

Olhar as pessoas, dar risada... oportunidades da vida
Enxergar passarinhos, flores, leveza
A loja da marginal tem um canteiro
Nunca tinha notado sua beleza

Todos os dias busco minhas prioridades
Estar lá, além dos copos, trânsito e pratos
Estar lá para olhar nos olhos, rir comigo só ou com minha família
Estar lá para dar beijo e abraço

Na companhia, no compartilhar, no ir, no voltar
No deixar, no retomar
Me liberto, decido
A hora não me dirá a hora
A casa não me dirá a hora
As ruas não me dirão a hora
Para as grandes coisa da vida
Os ponteiros do meu relógio só indicam "agora"