FLOR DA TERRA

Quando me faço flor

Sempre reverencio

a terra que me acolhe.

Seja pela terra seca, fustigada de sol

Ou pela terra alagada de lágrimas

Pela chuva que ainda não veio...

Eu me refaço flor.

Flor de toda terra,

Flor em qualquer terra.

Mesmo se eu me fizer flor

Em terra equivocadamente florida

É mister cumprir o tempo infinito de cada pétala...

Até o fim de todo sol.

E se dentre alegres ervas daninhas,

Quando só ilusoriamente me desfaço flor

Assinto ao ânimo de reflorescer mais tarde

No atávico dever de continuar flor.

Se me replanto em terra infértil

Deveras unto minha aragem

Com vontade milagrosamente adubada de florir

E então nela lanço meus tentáculos

de essência vital...obrigatória.

A me refazer flor.

É como veredicto: ser sempre flor.

Continuar flor.

Não importa o jeito

Não importa a hora.

Não importa a terra.

Indiscutivelmente flor.

Refloridamente flor.

Obrigatoriamente flor.

Doloridamente flor.

Porque nem mesmo à terra minada

Castigada,

Lhe é concedido o direito de se negar

Ao destino de compulsório ser flor.

E se por desventura eu morrer flor

Na última fertilidade da terra exaurida

Me seja resguardado o milagre

De reflorescer flor livre do destino...

Da sua terra.

Nota: dedico este meu poema a todas as terras.