PORTO DA SOLIDÃO
Encontrei-te assim…
só, sem cor, triste
e abandonado,
no porto da solidão.
Tinhas o mastro quebrado,
e o nome, quase apagado,
revelou-me quão bravo
tinhas sido outrora.
Quantos mares cruzaste
e agora te diluis em lama.
Atracaste no cais da morte
e nunca mais navegaste.
Aqui, no porto da solidão,
sob a chuva, o vento e o sol quente,
é visível o teu pesar.
Senti que me chamaste,
suplicando por uma mão
que te ajude a levantar.
Quantos mares, quantas águas geladas sulcaste?
Que número infinito de estrelas teu rumo iluminou?
Com que ranger de remos, compuseste tão triste canção?
Que sombra, que murmúrio de vento te empurrou?
O brilho das estrelas não impediu
que a tua noite chegasse,
e de negro o teu coração se vestisse,
à espera do fim…
E eu não sei a quem ajudar…
Se a ti ou a mim…
Ana Flor do Lácio