NO SILÊNCIO DA ESCURIDÃO

No silêncio da escuridão
o encontro comigo mesma faz doer o coração.
Escuto duas falas diferentes
com vozes idênticas.
Ainda não sei qual delas fala mais de mim,
mas sei que uma delas é a que mais escuto.
E a voz que mais escuto
que queria ter coragem e força para livrar-me.
Não gosto do que fala, repugna-me
os seus mandatos.
Mas, é essa voz que me atrai,
que me faz sentir viva,
que me faz anseios, que me leva a loucura
dos desejos.
Com ela brigo, rogo, choro...
de nada adianta, ela é invencível, valente, destemida, arrogante, teimosa.
Maldita voz na escuridão que silênciosamente, disfarçadamente, grita loucamente encobrindo a voz que tanto queria ouvir.
Queria ouvir mais, muito mais.
Queria ouvir alto e em bom tom permitindo eco em meu coração.
Mas ela é ainda uma voz tão frágil,
tão pequena, tão desnutrida para gritar
e da outra se livrar, que se cala
e se põe a chorar.
Pobre voz querida que tanto bem
tem para dar e falar!
Pobre voz apagada no seu próprio brilho,
no seu próprio som!
Pequena e amada voz, prometo que um dia
a escutarei.
Só peço, nunca me abandone,
sem você não sei viver,
pois mesmo sendo ainda quase muda,
sei que é de você
e para você o meu viver...

Sandra Lúcia Ceccon Perazzo
15/09/2006

Art by Simone Cz