O MENINO DAS GERAIS

Das Gerais para o mundo,

foram apenas novecentos quilômetros

E o menino viu o mar!

A Boca do Rio não é a boca do mundo.

Desnecessário, aqui,

passaporte para ver o mar

E o menino guardou esperar!

Cabelos queimados

pela viagem,

uma magreza de dar dó

à sede,

e a certeza do mar à vista

Sem cuecas

e com a bermuda rasgada

o vento trazia e levava seu pau

[diminuto]

de um lado ao outro

O menino das Gerais,

graças à permissividade do vento,

andou nu e tonto

[até]

sobre primeira onda

Lambeu a língua

agonizada pelo sal,

falou um texto do Guimarães:

beijou o mar.

Afundou-se inteiro!

O menino de Minas Gerais desconhecia nadar.