A SENTENÇA

Milagre

É sentenciar a palavra muda,

Da inércia que desnuda

O cenário agonizante.

Auscultar a cena muda!

O olhar mais perfurante,

Da doce ironia bruta,

Que nos esmaga a montante.

Sentenciar com fundamento

A dissimulação paralisante

Que tortura o momento.

O sorriso que engana

A palavra que profana

O direito ao alento.

Milagre,

É sentenciar qualquer ausência,

Da postura benfazeja,

De contumaz realeza!

Do tudo que nada transforma

Mas que no tempo engoda

Com tamanha sutileza!

Sentenciar todo os danos

Os invisíveis desenganos!

Na estrutura já amorfa...

Diagnosticar qualquer verdade,

Desta triste realidade,..

Coletar a oculta prova.

A lançar um veredicto

Que não seja o absinto:

Da temerária ilusão.

Milagre,

É a pequena caridade,

De auscultar um coração...

A debalde, em cada chão.

(Nota;sem vivência nunca há poesia tão concreta)