Nenhuma Inspiração

Gira

O Rio dos homens

Em minha terra que tem o jurupari

Sangra da cana a alma do açúcar

Turva

Gira a roda

Abraçando o bagaço com mãos de aço

O destilado destino

Em larga boca do funil.

Boca que a devora e cospe.

É a condição oportuna

Do filho que caiu do peito

Sem a sua serpente alada

Que fugiu de sua linha de arraia.

A fome é um protesto

Fumaça que sai da sopa

Deixando o gosto no ar

Cristal escuro no seio da pedra.

Brilha individualmente recôndito.

Um homem triste amargurado refletido na profundidade de um espelho

Espelho que se perde em olhar

Liquido e ao mesmo tempo vidro que ninguém bebe

Que se derrama dentro de se no fundo da poltrona.

Sinto-te pobre lagrima poluída e emoldurada

Borrando o silêncio com uma agonia viva na imagem.

Teu precipício sem guarnições!

Grita muda num espelho que nunca percebe que é parte da parede.

Vislumbro a boca aberta das plantas carnívoras

São palavras que calaram abertas

Sussurrando uma poesia

Que enlaça e sufoca se a tocam com alegria.

Nenhum destino se suspeita!

Se me deito para dormir o sono eterno...

O sono não vem!

Não existe tempo oportuno para dizer adeus a vida.

Girar só!...

Entre os cordões de gás.

É fazer descobertas míopes tateando o próprio coração!

Meu casario caiado

Na rua em torno da pracinha

Entre uma porta e janela desengonçado

Eu abraçava a namoradinha

Grossas escamas dos meus olhos de como pensar!...

Embotando as memórias que jamais irei lembrar

Dos antigos brinquedos espalhados no chão.

De repente nem deu mais tempo!

O lodo se inflamou nas pedras

E logo ficou verde de saudades

Os muitos crepúsculos tingiram de rubro...

As paisagens que dormiam num fim de tarde

Sempre eterno enquanto ainda arde.

Em meus olhos o sono foi pedindo

lugar.

Eu me virei para o mesmo espelho

E sua lembrança foi imediata

Logo me acostumei comigo mesmo ali sozinho.

E por um instante olhando para mim mesmo perdi o foco da visão

Sobre meus inquietos cabelos desarrumados

Não havia nenhuma inspiração.