Sem título( 98 )
Não quero filosofias nem poemas que falem da natureza das coisas,
como se a natureza das coisas fosse abstracção matemática
ou grandiloquentes metáforas cheias de coisa alguma.
A realidade de mim ou da árvore que me abriga
é apenas a visão ou o sentir da sua beleza e do peneirar do sol, dos ventos
nas suas folhagens, direi apenas que são ventos ou talvez música da floresta .
Por mais significados e mil palavras inventadas, não lograrei explicar-me para além do
que é a minha essência, nem farei mais real a árvore que me abriga de todas as
intempéries.
Da verdade das coisas e dos seus nomes, limito-me a saber sentir o que agora é meu
merecimento, e não profanar o íntimo das coisas e dos seres, é saber mais do que posso
merecer enquanto vivo.
Basto-me sem filosofias nem poemas, contento-me no acolhimento da árvore
sem querer saber mais do que ela é, sabendo apenas que as suas raízes tomam e
renovam incessantemente meu ser.
Saber disto tudo, sem saber de filosofia nem de poesia, poderá ser coisa pouca, poderá
ser quase nada, mas eu que sou de viveres simples, deixo-me a viver em contentamento
de saber que da floresta, fui bafejado com a mais bela das árvores.
Dionísio Dinis