HIPÓCRITA!

Hipócrita!

é hipócrita a tua cidade também,

nela atiro as Erínias,

e te faço um ser mutilado;

ativo imundícies acerca de ti:

hipócrita e teus cuidados,

hipócrita e tua amizade,

hipócrita e tua companhia,

ambos hipócritas és tu e tua cidade.

Não há um só decente entre os indecentes.

Um dia, junto à Aleto, à Tisífone

e à Megera,

hei de acercar-te!

Acertar-te o dardo mortal e te atiro

no fosso de fezes que é rio

que corta as vielas podres da tua cidade.

Ó Mãe Afrodite!

entrego-me com coragem

e violento ódio a

esta vingança.

Vingança dos deuses!

Tu jamais me verás.

O meu corpo passará através do

teu numa investida infernal contra ti e os teus,

contra a tua malícia, as tuas mentiras, o teu olhar de lince.

O Mãe Afrodite!

dai-me forças, rodeai-me de guirlandas

de deuses e de flores pois atravessarei o Érebo.

Que a fúria dos deuses recaia

sobre ti, sobre a tua prole e a tua cidade,

e te fira de morte!

Ó tríade nascida das gotas de sangue,

fustigues as vítimas sem dó, sem piedade,

castigues esta família desta cidade-serpente

indecente.

Ó oráculo de Delfos!

os uivos do cão acordarão toda a cidade,

as vozes no vento perturbarão todos os ouvidos;

ouvirão coisas que jamais ouviram dizer,

ó cidade impudica, maldita!

Hás de arder no Hades...

Derrisão,

denunciação,

traição,

cidade-prisão;

aflição,

mortificação,

cidade do cão,

geração de danados!

Julgaram-me, serão julgados!

Pela força dos deuses!

Isto que inspira a minha voz,

as minhas mãos te dirá da luta

esplendorosa que travei comigo mesmo,

eu, aqui, ferido, mas vivo!

Que a noite tombe sobre a tua cidade e

não mais aí amanheça,

e que não reste

ao menos uma só estrela no céu.

Pela honra:

meu desprezo,

meus padecimentos,

meu emparedamento,

a maldição há de te acompanhar, sim!

Até o fim:

ela é toda titânica, vulcânica!

Alçarei vôo e hei de

sobrepor as paredes altas

das injustiças que circundam

esta fedorenta cortiça que

é a tua cidade.

E tu jamais me verás,

mesmo investindo contra teu

corpo, tua alma, teu espírito, tuas vísceras,

expostas em postas, feito luminárias,

pelos postes da imunda

cloaca que é a tua cidade.

Tu não mais me conhecerás neste tempo, nesta idade.

Eu, junto aos deuses, lavarei os pecados

desta tua hipócrita cidade-calamidade.

Nem penses em se defender,

pois a aura negra te cercará e

você secará ao sol, a pino,

desatino...

É o teu destino.

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS

Campinas, é outono de 2007.