GRÉCIA MINHA

GRÉCIA MINHA

Atenas, Grécia, minha Pátria!

De lá é que sou,

Lá é que eu nasci.

O corpo na túnica

Lisa e amarela

Marchava no pó

Da estrada comprida de Tebas,

Para ir ouvir os sábios do tempo

Falar da beleza, do amor, e da vida.

Joguei nos desportos

Mais civilizados;

Os músculos tinham

Aspectos doirados

Do sol que nascia

Para dar à noite

Silêncios e lua derramando o luar

Na cruz das estrelas

Que brilham no mar!

Meus versos cantaram

A Deusa maior –

Em vermelho e azul

Copiado aos céus!

E arranquei às nuvens

A cor dos seus véus

Para envolver o mistério fundo

De falar à Dor que anda pelo mundo!

Tenho-a ao meu peito!

E dou à saudade

Toda a grande pena

Que há no meu sentir!

- Faço veneno

Das altas mentiras

Poemas de sonho que os anjos espalham

Com as suas liras.

Cantando o desvairo

Que há na humanidade

- a morte e o ciúme,

Fugindo à palavra

De nunca afirmar

Que o homem não sabe avaliar quem é

Depois de aprender nos livros que lê!

Não tem consciência

Nem vive de fé

Da sua ventura

Porque só anda na desilusão

De construir desenganos e amargura!

Vejo a Natureza

Em tudo o que é belo!

E mostro a expressão

De um olhar humano

Quando encontra outro

E constrói um plano

Dentro do Futuro

Da sua firmeza;

Mas às vezes surgem

Circunstâncias fundas da maior vileza,

- Qualquer juramento

Foge à lealdade:

O mundo não sabe

Amar a verdade!

Nas rimas que faço,

E para ser jovem na eternidade

Transformei em rosas

As lágrimas mudas

Que chorei um dia

No meu coração

Quando me roubaram

A cor da alegria!

E ponho-as na fronte

Pálidas e lindas

Para serem timbre

Dos temas de amor!

As rosas são tudo

E a rosa é uma flor!

(Antônio BOTTO. Ódio e Amor. Lisboa: Edições Ática, 1947)

Leitura recomendada pelo

PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS.

Campinas, é outono de 2007.