ANTÍTESE

Detesto meu endereço!

Sobretudo o vizinho da frente

que com seu som estrondeante

não me deixa ouvir o noticiário.

Detesto meu endereço,

tanto quanto minha aldeia,

minha província

e sua teia de intrigas.

Detesto o alcaide

e seus bajuladores:

secretários, otários doutores.

Detesto o imbecil que rodeia a mesa

e exibe sua bota nova

e toma raizada,

mas diz que é Whisky.

Odeio meu CEP, meu CPF, meu RG.

Odeio não poder escrever

tudo quanto odeio!

Odeio, logo não presto...

Não presto por ser eu mesmo,

por não emprestar minha identidade.

não presto por vaidade por pirraça,

por não ser da mesma raça,

da mesma laia de todos quanto “prestam”.

Prestam e me detestam...

Detestam meu endereço,

mas amam o vizinho da frente

e o seu som estrondeante

que me torna parte do noticiário.

Detestam meu endereço

e queimam minha aldeia

e tecem a teia que

enforca minha província.

Amam o alcaide

e seus bajuladores:

sectários, otários sem cores.

Amam o imbecil que rodeia a mesa

e, em mim, pizza com sua bota nova

e toma uísque,

mas diz que é cachaça.

Odeiam meu CEP, meu CPF, meu RG.

Odeiam e podem gritar

o quanto em mim odeiam.

Me odeiam, logo prestam...