privado pecado
eu te perdôo a mentira discreta
a fala dengosa quando me nega
os beijos apressados
os desejos emprestados
eu te perdôo a omissão suspeita
o prazer silencioso
a voz embargada, o desejo exposto
e minha ridícula boca aberta
eu me perdôo o prazer constante
as mãos inquietas
o bamboleio incessante
no rodopio das pernas
eu te perdôo o riso escrachado
o verbo desatinado
meu estar em privado pecado
a íris avessa engolindo na boca
roucamente confessa
a alegria de amar exagerado
eu não me perdôo a areia fina
escoada ao longo dos ponteiros
sem procelas e sem rimas
a chama sem pavio
encoberta por tantos janeiros