Verbo de Fogo

A atávica urbe terrestre não represa já o verbo

que me escorre bisonho na voz silenciada do pranto...

Este Verbo de Fogo, a estrelejar na acidez da mais opaca

escuridão. Estrelas derribadas em antecipação

no linho alvo do meu leito tumular ...

Que me envolvem, sedutoras, permanentes,

em desequilibro triunfante. Loucura, alienação, amofinação ...

Tacteio o instinto testemunhado, destas escritas imperfeitas,

deste fado não cantado. São chuvas a cachoar, destemerárias,

chuvas grossas, gregárias, na lubricidade e na concupiscência,

dum Ser tresloucado.

Salinidades acres de desejo do teu corpo

no meu corpo colado ... no mais louco, sagrado pecado,

onde este verbo fogueado, encontra o rebuliço do assombro.

(E acordar apaziguada, na calda morna do teu ombro ...

Ouvir o tic-tac, estrídulo e agigantado, do teu coração alado

no lusco-fusco cruzado da mais alta madrugada).

Este Verbo Fogo, é engodo devorador a rodopiar

num Tango de Piazola ou Gardel, na minha pele retalhada,

nesta casca enrugada tal ancestral pergaminho.

Verbo Fogo, canta-me então, na dança infinita dos corpos

em selváticas turbas, nas argênteas ou nas plúmbeas,

cataratas nublosas.

(Desfolhas-me perene, em pétalas de rosas...)

Sentada no baloiço de frágua, rebusco o perdido equilíbrio

em catadupas de primitivas palavras...

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 14/04/2007
Reeditado em 19/04/2007
Código do texto: T449011
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