QUANDO

Quando derribadas as utopias,

Açaimadas nas veredas da paixão;

Quando desbotadas e murchas as pétalas

Do irrigado e florido plantio da ilusão;

Quando as ausências povoadas de saudades

Empalidecem o horizonte da razão;

Quando dita o dia o despertar da luz

E teimosa segue a vida rendida á escuridão;

Quando os pesados grilhões da verdade

Aprisionam as asas da imaginação;

Quando acinzentada bruma das pagas

Apagam as cores da inspiração;

Quando a noite desperta o alarido

Nos surdos gritos subidos do coração:

Descalças de futuro e de presente,

investidas de seu domínio rígido,

Repetem-se agora as horas em vão

Consagrando-nos por oferendas

As débeis essências do passado,

As ausências travestidas de lembranças,

As somas dos silêncios do presente,

O amanhã de repleto vazio,

A solidão.