Metades
Posso ecoar ao mundo a que vim.
Mas, enquanto não acreditar em mim mesma,
Jamais poderei inspirar confiança alguma.
Posso acreditar no poder dos sonhos.
Mas, enquanto não me dispuser a sonhar também,
Jamais poderei recomendar que você feche seus olhos.
Posso ensandecer com os problemas do mundo.
Mas, enquanto eu não fizer da loucura minha a solução,
Jamais poderei demonstrar ao mundo cura qualquer para a alma.
A loucura é sim companheira dos sonhos.
Caminham de mãos dadas,
Rumo ao caminho da felicidade.
Mas, da felicidade ímpar de cada qual.
Sem comparações bestas quanto à sua intensidade e brilho.
Cintilam e oscilam a seu bel-prazer.
Sem precisões maiores.
Sem quereres alheio a influenciar.
Iluminam conforme querem.
Como quiserem.
Quem lhes for especial.
E para ser denominado “especial”
É necessário muito mais que fala.
É sê-lo e ponto.
Fazê-lo e exclamação.
Sem aquelas interrogações bestas
A nuvear as ideias.
É além dos paradigmas.
É aquém das aversões.
E das versões tantas todas
Que sempre estão na ponta da língua.
E são tantas!
Quase incontáveis...
Atormentam o tempo todo.
Como vizinho chato a bater à porta.
Queremos nos livrar.
Mas, por educação nos mantemos ali, em pé.
Todo ouvintes às lamentações feitas
Num breve momento de confissão.
Por falar em confissão
É preciso dizê-la também,
Lembrando-se dos nossos breves confessionários...
Escondidos de padres, pastores ou pais de santo.
Do cantinho nosso a confessar os pecados.
Pecados do corpo, ora d’alma!
Pecamos a todo instante.
Direta ou indiretamente.
Mas, o que seria pecar?
A nomenclatura é clara e objetiva.
Porém, a interpretação subjetiva e individualista.
O meu pecado nem sempre é o seu, e vice-versa.
O tempo que me disponho a ajoelhar,
Pedindo uma luz como guia
Talvez lhe seja considerado algo a gargalhar.
O caminho percorrido à felicidade minha
Nem sempre será o mesmo que o seu.
Ao menos que sigamos os mesmos objetivos.
Contudo, ainda assim poderemos nos desviar...
Para, quem sabe, lá na frente trombarmos
Nossas ideias e ideais, novamente.
Essa subjetividade toda é a diferença!
Faz a roda das coisas girar
Num frenesi tão grande
Que, se não soubermos nos equilibrar,
O chão e a loucura serão nossos fiéis companheiros.
Somos loucos todo o tempo, também.
Ao nosso modo.
Numa individualidade de loucura
Que psiquiatra nenhum consegue amenizar.
Somos loucos, sim!
É melhor sermos assim!
A vivermos de forma “quadradinha”,
Num jogo de peças de montar.
No entanto, nem toda loucura foge à regra...
E acaba por fazer-se montar num eterno jogo.
O jogo das pecinhas de encaixar.
Encaixamo-nos, nos desencaixamos.
Numas peças meio desgastadas
De tanto encaixa-desencaixa.
Essa brincadeira de descobrir o melhor encaixe
Além de desgastar, enjoa.
E para fugirmos dessa rotina de procura,
Acabamos por nos tornar ensandecidos.
Verdadeira ou convenientemente.
O quanto nos couber sê-lo ou fazê-lo.
Estrategicamente.
Então, nos contradizemos se somos loucos, ou não.
Se somos verdadeiros, ou não.
Contradizemos nossas ideias.
Contradizemos nossas próprias atitudes.
E fingimos tanto
Que fingimos a nós mesmos.
Uma meia-verdade
Numa meia-idade.
Com uma meia-vontade.
Tornamo-nos metades.
E não seres completos.
Oh! Coisa boba essa de se dividir ao meio!
Não somos nossos, nem dos outros.
E depois julgamos do próximo
Toda a parte que nos cabe do queijo!
Toda ela!
Os pés, os braços,
Os abraços e os beijos.
Com queijos e goiabadas
A adoçar e salgar a vida.
Mas, se somos metades quase todo o tempo,
Como cobrar em quê completo?
Oh! Humanidade insana!
Que baba colorido quando lhe convém.
E que rateia por sentimentos de forma austera.
Quase imposta.
Posso mostrar a que vim.
Das mais diversas formas.
Mas, enquanto eu não for um ser completo...
Jamais atingirei meu público.
Jamais deixarei de ser amador,
Para reinar no campo do profissionalismo.