Sem título(68)

Mato-me hoje?

Suicido-me amanhã?

Morri ontem?

Estou desnascendo agora?

Sepulto-me já?

Em quantas horas a pira crema o meu cadáver?

Em quantos ínfimos quasares durou a vida deste amor?

E quanta vida eu levo nesta morte anunciada?

E quanta terra e mar se rebolam nas minhas estéreis cinzas?

E quanto imperfeito amor deixo na terra das máscaras?

E quanta dor e metástases alheias devorei na fome de querer mais?

Sou perdão em último estertor?

Dou franco o peito ao aço nas costas?

Dou o mel no retorno do fel?

Entendo mas não compreendo?

Fujo mas presente me eternizo?

Precipito a resposta

Refuto certezas no decantar de turvas aragens

Incendeio a neblina com o gelo de indiferenças várias

Opaco ou corpo de cristal

E firme ou lasso -pouco importa -

Descerro a lápide do meu túmulo

Gargalho na cara da morte

Como na vida nunca chorei por morrer

Dionísio Dinis