O BEM QUE TRAZ O MAL
Ai que saudade sinto desse estio
sob os calafrios ante o temporal,
a sensação de confinar sombrio
como se nunca passasse esse mal!
A chuva impiedosa desagua aos gritos,
anunciando: sai quem está na frente!
Eu levo latas, paus, lixo e detritos,
que os céus mandaram impiedosamente.
As vezes gosto da lúgubre cantiga
que a chuva entoa ao cair lá fora,
traz a lembrança, aquela mais antiga,
a qual eu sinto viva nesta hora.
Então, passando esse meu tormento,
vejo o chuvisco cair sobre a terra,
fico a torturar em meu pensamento
vendo cair a chuva lá na serra.
E sem a chuva, a sua inundação,
sem o tormento que ela nos traz
entra o calor a boca de um vulcão
nunca deixando o ser humano em paz.
Como pode ser o dom, o benefício,
tornar-se ao mesmo tempo o mal?
para trazer vida este suplício;
para trazer a morte, um temporal?
(YEHORAM)