Coletâneas

Traçamos batalhas constantes.

Conosco e com o resto do mundo.

Lutamos com as armas que temos.

E muitas vezes o que ocorre é a derrota.

A derrota do duelo contra nossa impaciência.

Queremos tudo para ontem.

Ou ainda para um mês atrás, se possível.

Não conseguimos nos segurar na cadeira

Até que o filme termine.

Até que subam as letrinhas dos créditos.

Somos impacientes por natureza.

A vida nos ensinou a ser.

E acostumamo-nos tão rapidamente

Que hoje, quando nos freiam,

Queremos mais é mandar

Quem quer que tenha feito, pastar.

Somos ignorantes.

Todos, sem exceção.

Desde o mais humilde e com a vida simplificada.

Até o dono das mais altas posições hierárquicas.

Somos espertos ao que nos cabe.

Ao que nos trata algum retorno.

Benéfico, de preferência.

Somos toda inconstância...

Como lua, lá no céu cheio de estrelas.

Por dias, brilhamos intensamente.

Noutros, queremos mais é esconder a cara.

E nisso somos mestres!

Nessa arte de mascarar.

Somos experts com direito a diploma.

Quando queremos, escondemo-nos.

Quando não queremos, não há jeito.

Já nos escondemos tanto

Que, tem vezes, difícil nos encontrar.

Por quê?

Por pura mediocridade.

Por querer acreditar que somos

Melhores do que realmente somos.

Pobre ignorância humana!

A cortejar a si próprio,

Quando a carência se faz maior!

A ignorar a própria essência,

Coletaneando-se à medida que necessita!

Numa coletânea d quereres.

Todos rebuscados e rascunhados.

Vamos nos guardando em pastas.

Deixando à frente da prateleira

Tão somente o que queremos evidenciar.

Como as máscaras usadas.

Dependuramo-nos nos varais da vida,

Com prendedores tão velhos quanto nossa impaciência.

E vamos escolhendo as caras

Que melhor nos couber à situação.

Somos coletâneas quase todo o tempo.

De imagens, fisionomias e sensações.

De exteriorização e interiorização humana.

Não nos pomos à mostra,

Pelo simples medo da exposição.

Por medo das críticas, ou até dos elogios.

Fomos criados para vivermos solitários.

Travando batalhas quase todo o tempo.

Com o que chamamos de “consciência”.

Essa nos martela os pensares.

E nos puxam as orelhas como mãe,

Ao aprontarmos ou não.

Então, nos deixamos criar solitariamente.

Sem estender as mãos a quem quer que seja.

E sem receber qualquer tipo de auxílio.

Solitários, vamos nos petrificando.

Considerando-nos tão ou melhores que nós mesmos.

Travamos batalhas com o espelho.

E lá no fim da vida é que vemos

O quão imbecis fomos!

Coletaneamo-nos.

Ao invés de fotocopiarmo-nos.

Seria muito mais interessante a multiplicação

A qualquer divisão segregada.

Afinal, a melhor coletânea a se colecionar

É aquela musical, que nos preenche

De acordes e sons,

Motivos e, consequentemente, de nós mesmos...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 01/11/2013
Código do texto: T4551664
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