TEMPO DE SORTILÉGIO * Catarse

Já nasci na prisão.

Fiz do medo

um brinquedo

que trazia na palma da mão.

Fui menino enjeitado.

Fui soldado.

Fui adulto explorado.

Fui vexado.

Vi o medo tolher

quantos homens sem medo!

Vi crianças comer

um bocado já duro de pão.

E vi mães em segredo

a beijarem o pão que caíra no chão!

Vi tudo o que era feio!

E, ao fim de tanto anos,

um amargo receiode não ver

os tiranos

finalmente e de vez expulsos do poder...

Um receio doído,

como a fome sem pão,

como um homem traído

pela vil delação

ou como uma esperança

que a tirania insulta

nas mãos duma criança

condenada a nascer já adulta...

José-Augusto de Carvalho

20 de Abril de 2002

Viana do Alentejo * Évora * Portugal

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 27/08/2005
Reeditado em 29/07/2018
Código do texto: T45571
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