TUDO VIRA POESIA

De tudo se faz poesia.

Até mesmo

de uma inspiração vazia.

Em tudo o que existe

habita a poesia.

Mesmo num coração triste.

Aliás, principalmente.

Maré cheia,

maré vazante,

grão de areia peixe estrela concha

e baleia.

Tudo vira poesia.

E navio e borboleta.

E barco e charco.

E flecha e seta e arco.

Longe se atira a palavra,

para além do alvo horizonte,

pássaros palavras atravessando

as campinas,

feito meninas arteiras.

Existe poesia na montanha,

e nos murmúrios da brisa

soprando o orvalho das manhãs.

Arco-íris é poesia rara.

Feito silêncio,

é o que mais fala.

Tem

poesia de sul a norte

e até na morte poesia tem

que é um portal para novos versos

viajando pelo além.

E os rios?

Mas esses correm para o mar

e me deixam a ver navios.

Poesia é feito mulher bonita,

bem melhor que rapadura.

Tem doçura de mel

é anjo e é musa

caída do céu...

Poesia pura para o menestrel!

Tudo vira poesia.

Uma lua redonda e amarela,

lá de cima,

luariza a moça nua

que a espia da janela.

(isso são versos ou seria uma aquarela?)

Mas e se a lua

for magrinha?

Ficará sem versos,

triste e sozinha?

Qual o quê!

Lua magra

também é bonita de se ver.

Assim também a tristeza

pode se vestir de alegria.

E o verso vira do avesso

a sisuda melancolia.

E tem versos de dor

e versos de amor,

de saudade e solidão,

por que não?

Tem poesia no voo do colibri

e na doçura do jasmim.

Tem poesia em você

quando sorri para mim.

E também quando me deseja,

quando me abraça e quando me beija.

E a noite, pode ser poesia?

Enfeitada de estrelas

vira cristal, translúcido verso

que ilumina e inebria.

Até a preguiça

pode virar poesia.

Mas aí a coisa enguiça:

vou deixar para outro dia.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 11/11/2013
Código do texto: T4565714
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