Indigências

São tantas as indigências,

as pobrezas, as misérias e as carências.

Superestimam-se as aparências,

enquanto abundam as negligências.

Azuis para as impotências,

cinzas para as consciências.

O Sistema exige cega obediência.

Não há clemência!

Exceto para corruptos. Vossas Excelências!

Perdem-se inocências, banalizam-se demências.

Mendinga-se compaixão e afeto.

Quer-se companhia, comida e teto.

Outro, suplica por saúde.

Outra, por beleza amiúde.

João pede por Maria,

a louca, que clama por mais fantasia.

São tantos os pedidos Carlos,

que haja tantos deuses para doá-los.

Pede-se de tudo:

O gago para não ficar surdo,

o cego para não ficar mudo.

Eu, inepto, quero Saber, Estudo.

Quero vislumbrar o Futuro,

adentrar o túnel escuro.

O porque de tanto muro,

de tanto horror, de um viver tão duro.

Reza-se para mais pedir.

Sempre mais, ainda que nem se tenha para onde ir.

Mas, ir para onde José?

Para o Sertão que já não é?

Talvez ao Santuário, ouvir o sermão do abade?

À praça, o do frade?

O do judeu que pergunta "Quo Vadis"?

E já foi tanto pedir que agora se faz tarde.

Já não há nem mesmo a metade.

Deus se foi levando a Sagrada Boa Vontade.