Como se Morre de Velhice

Como se morre de velhice

ou de acidente ou de doença,

morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo

onde o que se sente e se pensa

não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça

onde se escreve igual sentença

para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte

sem estímulo ou recompensa

onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste

sinto a minha própria presença

num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice

nem de acidente nem de doença,

mas, Senhor, só de indiferença.)

Cecília Meireles
Enviado por Américo Paz em 20/11/2013
Código do texto: T4578459
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.