Traição e incesto

Em um vilarejo distante

Viveu um nobre mancebo

E sem que seus pais soubessem

Casou-se escondido por medo

Porém, amor não havia

Nos olhos da bela dama

Que se uniu com pobre Honório

Intentando o dinheiro e a fama

Sob o soturno luar

Uma semente introduziu em seu ventre

Assim que a criança bramiu

O laço foi atado pra sempre

No entanto, os pais de Honório

Viam o neto como um bastardo

Um andrajoso que vegeta; não vive

Tornar-se-ia ao presenciar o opróbrio

Os impropérios contra seu legado

O consternavam e o aborreciam

Triste e desalentado

Foi abstrair-se no prado

Em meio ao campo verdejante

Existia uma árvore majestosa

Testemunha de um pecado mortal

Cúmplice de uma dama fogosa

Como um rato de esgoto

Lânguido, faminto e com sede

Cabisbaixo com seu alaúde

Andou pelo prado verde

A mulher pela qual se apaixonara

A tal senhorita fogosa

Jazia a sombra à sombra da árvore

Numa paixão incestuosa

Agora tudo faz sentido

Havia uma dolorosa verdade

Seu irmão fez o papel de marido

E o cretino o fez sem alarde

Vivendo inteiramente pra música

Decidiu deixar o opróbrio

Convidado a tocar na corte

Triunfante partiu Honório

Mas como diz o ditado

'desgraça pouca é bobagem'

À infelicidade estava fadado

A desventura chegou a estalagem

Um leproso de seu vilarejo

Abandonou seu leito de morte

Aventurando-se em destemida andança

Cria deparar-se com a sorte

Todavia, não encontrou nada

A não ser um velho mancebo

O mendigo porta-desgraça

Trouxera-lhe uma charada

Havia rumores nefastos

Correndo nas cercanias

Que o mais novo fidalgo

A seu sangue não pertencia

Como se não bastasse

Traição, mentira e perfídia

O fruto de sua própria carne

As costas virar-lhe-ia

E com o mesmo laço que desatou a vergonha

Decidiu começar novamente

Roxo, com a língua pra fora

Pendurado num alto dormente

Uma ode plangente e funesta

Foi encontrada em seu alaúde

Dizendo que pela morte morrida

Descansaria num ataúde