ANJO NEGRO

Não sou essa figura que pintaram.

Que borraram...

Que bordaram no tecido da hipocrisia.

Não sou santo,

Mas julgam a minha insanidade santa.

Não sou árvore,

Não sou planta.

Nem choro lágrimas de orvalho.

Sou homem,

Sou mulher,

Sou criança.

Sou um anjo cuja ferida

Das asas arrancadas ainda sangra.

Um sangue vermelho e quente escorre

Banhando esta terra julgada impura

Por onde passei.

Sou um profeta diante de sã consciência

Que jamais proferiu qualquer palavra de pejo.

Sou poeta,

Condenado por causar tanto dissabor.

Não tenho alma,

Ou pelo menos não tinha.

Mas que agora ferida

Me cega com sua dor.

E na boca,

Não há mais sabor.

Conservo apenas na memória

A lembrança de um tempo menos imperfeito

Um tempo de liberdade

Onde convivíamos com os defeitos

E praticávamos a arte

De aceitar os erros

Os tornando o melhor

Que havia em nós.

Marcelha Leone
Enviado por Marcelha Leone em 24/04/2007
Código do texto: T462198
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