ANJO NEGRO
Não sou essa figura que pintaram.
Que borraram...
Que bordaram no tecido da hipocrisia.
Não sou santo,
Mas julgam a minha insanidade santa.
Não sou árvore,
Não sou planta.
Nem choro lágrimas de orvalho.
Sou homem,
Sou mulher,
Sou criança.
Sou um anjo cuja ferida
Das asas arrancadas ainda sangra.
Um sangue vermelho e quente escorre
Banhando esta terra julgada impura
Por onde passei.
Sou um profeta diante de sã consciência
Que jamais proferiu qualquer palavra de pejo.
Sou poeta,
Condenado por causar tanto dissabor.
Não tenho alma,
Ou pelo menos não tinha.
Mas que agora ferida
Me cega com sua dor.
E na boca,
Não há mais sabor.
Conservo apenas na memória
A lembrança de um tempo menos imperfeito
Um tempo de liberdade
Onde convivíamos com os defeitos
E praticávamos a arte
De aceitar os erros
Os tornando o melhor
Que havia em nós.