Fome de tudo
O que o mundo me oferece em abuso,
Me lambuzo. Ser guloso é pecado
E, por isso mesmo, extravaso.
Enquanto houver um parco sopro de vida,
Não mastigo!
Sou extremamente mal-educado
E, ainda mais, "sem estilo".
Saciar? Não existe no meu dicionário
Na verdade, isso foi inventado.
Ou melhor, esconderam,
Sobre os bastidores da "saciedade",
O estágio canibal de nossa vil sociedade.
Que o gosto amargo das trevas aliem-se
Ao suave e doce sabor da luz.
Que minha boca sinta o sal das lágrimas
E, ao mesmo tempo, do sangue e do pus.
Que a morte venha e me satisfaça
Após estar morbidamente obeso,
Sem poder andar e, mesmo assim, ileso,
Livre dos desnutridos e de suas mordaças.