Contraste
É estar rodeado e sentir-se só
É lhe contar um fato
E falar sozinho
É tomar whisky ao invés do vinho.
Se calar ao som de um blues
Dançar frenético a bossa nova
Admirar-se com a gaivota
Chorar sozinho num quarto escuro
E adormecer sonhando o futuro
Amanhecer ainda tristonho
Levantar-se ainda com sono
Gritar com força olhando o espelho
Admitir sentir desespero.
Andar sozinho na rua deserta
Chegar em casa e a porta aberta
Sair na noite sem um agasalho
Jogar paciência com o baralho.
Correr sem rumo na manhã fria
Depois de uma noite mal dormida
Receber o telefonema “daquela” tia
Dormir mais cedo para racionar
No meio da noite se levantar
É como fumar e não tragar
O velho disco não quer tocar.
A lua não quer mais sorrir
Levar nas malas sempre o partir.
Ouvir a gaita e não se alegrar
Deixar uma lágrima escorregar
Com as costas da mão o rosto enxugar
E alucinado soluçar.
Andar descalço pelo gramado
Arrepiar ao sentir o orvalho
Sorrir sozinho mesmo sem vontade
Querer sair desta cidade.
Dizer que odeia mesmo amando
Deixar que a vida se vá levando.