Contraste

É estar rodeado e sentir-se só

É lhe contar um fato

E falar sozinho

É tomar whisky ao invés do vinho.

Se calar ao som de um blues

Dançar frenético a bossa nova

Admirar-se com a gaivota

Chorar sozinho num quarto escuro

E adormecer sonhando o futuro

Amanhecer ainda tristonho

Levantar-se ainda com sono

Gritar com força olhando o espelho

Admitir sentir desespero.

Andar sozinho na rua deserta

Chegar em casa e a porta aberta

Sair na noite sem um agasalho

Jogar paciência com o baralho.

Correr sem rumo na manhã fria

Depois de uma noite mal dormida

Receber o telefonema “daquela” tia

Dormir mais cedo para racionar

No meio da noite se levantar

É como fumar e não tragar

O velho disco não quer tocar.

A lua não quer mais sorrir

Levar nas malas sempre o partir.

Ouvir a gaita e não se alegrar

Deixar uma lágrima escorregar

Com as costas da mão o rosto enxugar

E alucinado soluçar.

Andar descalço pelo gramado

Arrepiar ao sentir o orvalho

Sorrir sozinho mesmo sem vontade

Querer sair desta cidade.

Dizer que odeia mesmo amando

Deixar que a vida se vá levando.

Marcelha Leone
Enviado por Marcelha Leone em 25/04/2007
Código do texto: T463494
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