Migalhas

Euna Britto de Oliveira

Se eu te olhar, tropeço.

A clareza da dúvida é a grandeza da treva.

Não te revelas!

Quando não se sabe,

o que pode ser mais cor de azeviche?

Os caçadores de paz eram os que corriam mais!...

No entanto, a paz pairava sobre eles...

Mas nunca olhavam para cima!...

Hoje, eu arrumaria um castelo sozinha!

Varreria suas salas amplas,

limparia as vidraças,

espanaria os troféus,

as carcaças das caças abatidas

pelos nobres e pelos heróis...

Colocaria flores nas jarras

e espiaria a ilha

no meio do mar,

da janela da torre mais alta,

onde a filha do rei vai e volta,

cansada de histórias de guerras,

querendo mais a prisão do que amando a liberdade...

E eu, aia, iria ter pena dela,

que nunca varreu uma sala,

que nunca poliu um azulejo,

nem nunca aprendeu com o vento

o solfejo das pobrezas infinitas

e as palavras que os furacões retiram da boca dos vulcões

e espalham, desordenadas... a brisa tentando emendá-las

e fazer rendas com verbos, soluços e falas...

Despedaçados risos, cantares de amigos,

o melhor de tudo:

O pouco que com Deus é muito!

As migalhas...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 26/04/2007
Código do texto: T464341