CONSUMATUM EST


Só lhe resta
romper, sem trauma,
o cordão de prata 
e libertar-se
da matéria inerte.

Muita gente ao redor
uns chorosos,
outros nem tanto,
mas todos com ar
de tristeza.

Silêncio quebrado
por chiado de roldanas
premidas por cordas
na tensão da descida.

Um bentevi canta
e assiste a tudo
do alto da mangueira
que sombreia o espaço.

Pai Nosso e Ave Maria 
ecoam de lábios piedosos
reforçados por mãos dadas
em comunhão.

Pessoas se abraçam
e se confortam -
o alívio do estar vivo -

no fundo imaginam
quando e como
será a sua vez.

Sobre a tumba,
a última coroa depositada;
cheiro de flores
abafado pelo azedo
de mangas passadas
dispersas ao chão.

Logo todos se vão,
o bentevi desaparece
e do alto da mangueira
cai um fruto maduro.
Consumatum est.