O hipnôfobo

Estou dormindo quando ouço tua voz,

Abro os olhos lentamente, com expressa indagação.

Por que me vens chamar?

Por que foges quando estendo a mão?

No escuro do quarto tendo te divisar,

Mas meus olhos estão turvos.

Não posso afirmar se o que vejo é real ou ilusão.

Estou realmente dormindo?

Meu Deus! Por que tanta agitação?

Por que foges quando estendo a mão?

O que me acordou fugiu para longe, e de lá me olha.

Está numa escuridão, não posso, acertadamente, distingui-lo.

Não posso, se o conheço, dizer quem é.

Meu coração fica agoniado,

Meu olhos tentam a todo custo reconhecer aquele que me chamou.

Mas num momento impreciso, o olho com mais atenção,e penso,

“É, esse ser me é familiar, no geral, sob a penumbra,

Reconheço que não me é estranho.

Mas esta maneira com que me olha me apavora.

Parece sorrir de mim, ou de minha reação patética, o efêmero”.

O ser que não me é estranho dá gargalhadas de meus toscos gestos,

Do demasiado arregalar de meus olhos.

Todavia, melindrosamente, aproximei-me do canto escuro.

Chegando perto, estendi a mão trêmula.

Meu coração, gélido e aflito, me repreendia,

E eu estava quase morto quando meus dedos tocaram numa coisa lisa,

Agoniadamente fria

Que deixou meus nervos em euforia,

Eu não via nada, nada eu via,

Porém começou a chegar o dia,

E, no esmorecimento das trevas,

Os olhos abriram caminho e com tristeza viram

Que o ser de quem eu nada sabia,

Aquele que da minha mão fugia,

Morava num grande espelho que ali vivia

Recluso e abandonado

E do qual eu sempre me esquecia.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 15/01/2014
Reeditado em 15/01/2014
Código do texto: T4650419
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