Todo nada

Nada é importante

Pois do nada tiro o instante,

o momento vazio

De se deparar com o que não está pronto

O momento do estalo

O momento do tiro no escuro

O lado puro,

onde nem se é embrião

O nada me veste

De não pele

De nem osso

Do nada me vem o poço

Onde me encontro velho

Onde me sinto moço

O poço de nada

De onde vem o som

Que nem ouço

A melodia que nem faço

A rima que nem pensei existir

E que acontece no traço

Do nada eu busco saber

O que acontece no nem querer

O que existe

No que não se vê

Onde encho o peito de nada

E vou atrás do que se quer ter

E no profundo nada

Percebe-se o que se é

Vazio, oco, ausente

Sem sede, sem fome, sem paz

Um caos misturado de tudo

Do nada que espera uma forma

Do nada que a gente se faz