DEPOIS DE ESCREVER TANTO

depois de escrever tanto

parece que não há força

não há desejo

a vontade acabou

o brilho cessou

a visão diminuiu

depois de tanto escrever

parece que não mais haver

não há vontade

a alegria se perdeu

o coração arrefeceu

a vida partiu

depois de escrever tanto

e tanto e tanto

não há mais encanto

não há mais momento

é só um vazio no tempo

depois de tanto escrever

parece que a palavra vai bater

parece que tempo vai ruir

e é só o que há: sumir!

e depois de tanto escrever

e depois de escrever tanto

moças, poesia, acalanto

e depois de tanto verso

e tanto verso tanto

amores, levadas, remanso

parece que tudo se gasta

e apaga e se arrasta

no entanto

na beira do abismo

no fim da estrada

no desgosto sem gosto

o fim da picada

no entanto

no caos, no alvoroço

no aperto danado

no roer do osso

o ser maravilhado!

nunca é o fim

nunca é bastante

para o poeta errante

errar mais adiante

e errar um pouco mais

depois de tanto escrever

e depois de escrever tanto

ainda há o que se gastar

pois a palavra e o poeta

não acabam

mesmo quando acaba

a vontade de sonhar

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 27/01/2014
Código do texto: T4667122
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