ODE - LAMENTO
Futuro incerto, pálido e precário,
o frio granito fúlgido que espanta,
na sua carne é só a dor que canta.
Incerto é se verá a nova aurora,
prepara a sua terra enquanto chora,
e compra a sua urna e lampadário.
Eu vi as suas cordas esticadas
querendo já partir para outros portos,
numa arrancada rumo a mares mortos
com medo dessa lúgubre partida.
O fado trouxe o câncer, a ferida,
e as lutas com terríveis derrocadas.
O mal chegou no centro cerebral,
assim ele tirou o passaporte
com um salvo-conduto para a morte.
Eu vi a imagem triste que é o pranto
da família infeliz, em desencanto,
perdidos neste mundo irracional.
Sem saber desta peste que condena
ele era sempre férvido, e estratégico,
eu nunca o imaginara tetraplégico
num quadro de terrível desalento,
e entrando em desespero violento
sofrendo nessa pérfida entrecena.
Ficou da chaga interna prisioneiro,
e já detém a ríspida loucura,
pois este mal terrível e sem cura
que se arrasta cruel é tenebroso,
todo o corpo destrói, e é furioso
como um inexorável carniceiro.
Nunca a oração, ou grito mais estrídulo
que dirigiu a Deus em seus assédios,
e nem mesmo o mais forte dos remédios
lhe deram horizontes, ou um motivo
para que ele se sinta como vivo,
só lhe resta prostrar-se ao pé do ídolo
pois o céu é insensível aos clamores,
e o faz sofrer na átrio com a dor,
deixando-o co’um psíquico amargor,
e com sua esperança descaída,
e é nas gotas das lágrimas caídas,
que percebe-se a trança dos horrores.
A cura pra ciência é um mistério.
Como matar o íncola voraz
se todo tratamento é ineficaz?
Nosso conhecimento que não medra!
Medicina da idade inda da pedra,
não tira nosso pé do cemitério.
É mister, e é vital ter confiança
pra lutar até a hora derradeira,
e ficar resistindo na trincheira
tentando reverter o mal obscuro,
querendo muita vida pro futuro
e não deixar morrer a esperança.