Gaivota

As flores já estão todas conversadas:

Umas darão frutos

Outras, cores

Outras, perfumes

Formas simples ou complicadas...

Cristais de esperanças estilhaçadas

Agregaram-se à minha janela

Como cristais de neve.

Breve, eu verei se aprendi mesmo da figueira!...

A fogueira é muito pedagógica!

Toda arrumadinha,

Um pau por baixo, outro por cima,

Labaredas, brasas, cinzas

Estalos, estilos, fagulhas...

E o tição aceso

Com que escrevo “menina”

Sobre a noite escura

assim como se borda dourado

Sobre veludo negro

Com ouro enfiado na agulha...

Os tomadores da glória alheia

Têm caras tão inocentes

Que mais parecem sereias

Assoviando para marinheiros

E os tolos não se amarrarem...

Ponho-me em cima de um camelo,

Eu quero andar alegre!...

Na bolsa de um canguru,

Eu quero pular de alegria!

Se a gaivota não voar, fica idiota

Começa a catar ciscos-níqueis

Como um agiota...

Voar é preciso, claro!

É preciso furar a nuvem cor de chumbo

Porque detrás dela existe o azul.

É preciso colher rosas do sul.

Negligências passadas a limpo

Rascunho de paciências

Eis o que andei preparando...

Fineza não perturbar,

Estou me regenerando.

Eu quero as coisas choradas, suadas, lutadas,

As coisas abençoadas

Que ninguém pode tirar!...

Se me concentro na folha, penetro na floresta.

O velho banco de trem

Que enfeita a varanda de uma casa

Pergunta-me por quem viajou nele,

As cidades onde andou...

E eu não sei.

Tudo me puxa

Me come um pedaço

Me arranha

Me envolve em casa de aranha

E eu vou...

Sensibilizada é a maneira que eu sou.

Mas se tivesse jeito, eu não seria.

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 28/04/2007
Código do texto: T467621