# CORAÇÃO DE FUMAÇA

Eu tenho cá dois corações em mim.

Um bate esplendido. Vivo por ele.

Mas um outro aqui está a desmanchar.

pensando que minha vida é só dele.

Toma meus afazeres para ocupar amores.

me faz flutuar leve no orvalho que esvai,

mas o sol quente da realidade a ele dissipa.

e das alturas imaginarias comigo cai.

Mesmo os amores estranhos e furtivos.

vão e vem com a velocidade do minuano.

assim, brincam com o coração de verdade,

deixando-o rasgado como um trapo de pano.

De modo que as alegrias são miragens tolas.

e a realidade surge logo adiante, e dolorida.

ao carrasco ficam expostos dedos sem anéis.

nunca houve chegada para a aparente partida.

A ração me tranquiliza sonolento na botija caseira,

mas sou buguelo a ciscar assustado por ai afora.

nada encontrando a teima me torna constante

outra ilusão dissipando a tudo anula por hora.

Mas embromado sinto que isso também e vida,

e o segundo coração com o primeiro faz trapaça,

ora, se tenho apenas um coração ainda de pedra.

melhor ter como reserva um coração de fumaça.

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 04/02/2014
Reeditado em 17/09/2021
Código do texto: T4677546
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