O Apagar da luz

As luzes da tevê ecoam nos olhos meus

Um gordo manda um beijo a todos e eu

Uma discussão sobre onde Jesus morreu

Tantos canais, coisas a me falar

E meus olhos sem pestanejar

Dão-me uma sensação de bem-estar

A noite abraça a todos, a todos e eu

Os canais na televisão ávidos a pular

E em nenhum tem nada de bom a passar

E quando acredito a algo valioso achar

Eis que vejo o apagar da luz

E uma criatura sangrando pus

Faço-me logo o sinal da cruz

E rapidamente ponho-me a rezar

A criatura não está mais parada lá

Mas uma mulher, bonita, parada lá

Olhando-me com olhos frios, parada lá

Somente a branca luz da lua

Passava para iluminar a nua

Pálida, branca, triste e nua

Somente me olhando, parada lá

“Quem és? Diga!” ousei perguntar

E sem resposta tornei a questionar

E ainda, fitei-lhe o meu cansado olhar

“O que queres triste alma?”

Perguntei agora com calma

E fitei os olhos daquela alma

Sozinha, infeliz, cansada, parada lá

Era frio, escuro e tenebroso seu olhar

Meu coração parecia que ia saltar

Para fora da boca, veemente a palpitar

“O que te posso oferecer?

Queres algo para comer?

Talvez possa lhe entreter?”

E ela nada fez para me comandar

Estava apenas só e solitária parada lá

Entrei em desespero comecei a chorar

“Diga-me!” cheguei, então, a trovejar

“Se nada queres, vá-se!”

E preso nesse impasse

Preferia que me matasse

E ela nem mesmo se mexeu de lá

Eis que me entendi: “Aonde que era lá?”

“Por que ela permanecia parada lá?”

E lentamente ela me ajudou a me levantar

E a abracei e chorei

Então eu me perdoei

Por alguém que amei

E deixei, sozinha e triste parada lá

As luzes da tevê ecoam nos olhos meus

Um gordo manda um beijo a todos menos eu

Uma discussão sobre onde Jesus morreu

Tantos canais, coisas a me falar

E meus olhos sem pestanejar

Dão-me uma sensação de bem-estar

A noite abraça a todos, a todos menos eu