O QUE VÊS, MINHA MENINA?

O que vês, minha menina?

O que vês para além das dores desse mundo?

A esperança, um raio de sol?

Uma estrela solitária no horizonte?

Um barco fugindo, sumindo,

um cântaro quebrado junto à fonte?

Flores murchas, desertos, páramos ressequidos?

Um tempo despido de crenças na

dignidade do homem, desintegrado,

alquebrado, tão sofrido ?

Vês um tempo sem tempo?

Desalento? Vida corrida?

Bela desse jeito,

vês que ainda campeia pelo mundo

dissimulado preconceito,

de raça, de cor, de credo?

E que os homens ainda se matam

e fazem da violência o seu brinquedo?

Nos teus olhos leio o espanto,

pássaro ferido de susto,

riscando, pelo céu, incerteza e desencanto.

Eu não queria esses teus olhos adultos,

menina tão bela, de renda tão branca,

de trança amarela!

Vejo os teus brincos.

Mas não vejo os teus brinquedos.

Vejo os teus medos e essa agudeza inaudita.

Nos teus cabelos, laço de fita.

Nos teus olhos azuis,

a tristeza infinita

de um sax distante chorando

tua beleza em blues.

José de Castro
Enviado por José de Castro em 17/02/2014
Código do texto: T4694325
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.